segunda-feira, 12 de março de 2012


MORRISSEY DEIXA A PLATEIA EM ÊXTASE NA DESPEDIDA EM SP


Morrissey no palco do Espaço das Américas. Foto de Amaury Nehn/AgNews

Morrissey não é um mero entertainment do show business. Nunca foi. Talvez por isso ele não tenha exatamente fãs e sim seguidores, pessoas que quando se apaixonam pela obra do artista buscam conhece-la por completo. Foi justamente uma enorme parcela deste público que o cantor e compositor inglês levou até o Espaço das Américas, em São Paulo, numa noite de domngo chuvosa e quente, próprias dos últimos dias de verão. A noite foi aberta pela cantora Kristeen Young, que pouca gente viu, já que a chuva e os engarrafamenos no entorno da Barrafunda impediram boa parte do público de chegar a tempo - inclusive este que vos escreve.

Antes mesmo de surgir no palco, Morrissey já vai fazendo a plateia se familiarizar com seu mundo todo próprio. Ele prepara o terreno com uma série de clipes de artistas do pop e rock dos anos 60 e início dos 70 - a maior parte nomes que tiveram poucos hits no Reino Unido e não são conhecidos do grande público. Sua entrada no palco é triunfal. O pano cai e ele surge de cara limpa, em primeiro plano, para delírio do público que o trata com devoção, com seus músicos vindos logo atrás - todos vestidos com uma camiseta vermelha com a inscrição: "Assad is shit' (Assad é um merda, referência ao presidente da Síria, Bashar al-Assad).

Os músicos pegam seus instrumentos e a celebração começa com First of the Gang to Die, uma das melhores músicas de sua trajetória solo. O som não está perfeito e Morrissey parece não ter aquecido a voz, cantando um pouco rouco. Mas quem se importa. Ele está ali na sua frente, fazendo caras e bocas, vestido numa camisa amarelo-ouro, e usando um crucifixo. Detalhes que boa parte do público não quer deixar passar e abre mão de curtir o show para se tornarem fotógrafos e cinegrafistas em tempo integral, atrapalhando quem está ali para se deleitar com a apresentação. Vivemos na era das redes sociais, onde o que é reproduzido vale mais que aquilo que é real.

Ao final de Alma Matters, a quarta música, Morrissey esbraveja: "São Paulo, I love you!", como forma de agradecer tamanha receptividade do público apaixonado por ele. O foco inicial são as músicas da carreira solo e assim ele obedece rigorosamente ao setlist que vem apresentando nesta turnê latino-americana. Mas é claro que há no ar uma ansiedade enorme pelas canções dos tempos da banda The Smiths. Still ill é a primeira a surgir no repertório. Por incrível que pareça esta foi a primeira música da banda a ser lançada no Brasil, já com um atraso típico daqueles tempos, no longínquo ano de 1985, através de um disquinho de plástico que vinha de brinde num dos primeiros números da revista Bizz. Puro delírio!

Depois vem um de seus primeiro hits em carreira solo, Everyday is like sunday, e o público canta a plenos pulmões. Satisfeito, Morrissey responde com simpatia em um redondo: "obrigadô". Ele troca a camisa amarela por uma preta que, posteriormente, ele irá jogá-la ao sacrifício para o público. Outras músicas são bem recebidas pelo público, como You´re the one for me, fatty! e Ouija Board, Ouija Board. Já outras são acompanhadas com respeito mas sem empolgação - sim, o público sente falta de boas músicas de sua trajetória solo como Suedehead, You´re gonna need someone on your side, Billy Budd, até as recentes Something is squeezing my skull e Ganglord, entre tantas outras. 

Morrissey não deixa de passar suas mensagens mais fortes. Critica ferozmente a visita do príncípe Harry ao Brasil: "A família Real quer apenas o seu dinheiro. Não dêem!" Já a próxima música dos Smiths é a incisiva bandeira vegetariana Meat is murder, que ressurge num arranjo ainda mais denso, dark. No telão são passadas imagens de sofrimento dos animais sendo abatidos. Aqueles mais sensíveis, preferem não olhar. É com certeza o momento mais pesado do show. Mas vamos aos momentos de maior delírio e aí nada supera There is a light that never goes out, com Morrissey deixando o título-refrão com o público. Sim, o clássico dos Smiths arranca lágrimas dos seguidores de Morrissey. Ele também parece se emocionar com tamanha demonstração de paixão. Ao final de I Know It´s over, outra dos tempos dos Smiths, ele parece embargar a voz.

O final é apoteótico com a sequência de Please, please, please let me get what I want e How soon is now? Morrissey e os músicos saem rapidamente do palco. Ele troca novamente a camisa, deixando a azul e retornando com a primeira amarelo-ouro, e todos retornam para o bis programado: One day goodbye will be farewell. E se despede adequadamente. Êxtase da plateia que tanto gritou: "Morrissey! Morrissey! Morrissey!"

Será que ainda se passará mais 12 anos até que mister Stephen Patrick Morrissey retorne ao Brasil? Provavelmente não. Três apresentações foram pouco para o tamanho do público que ele possui no Brasil. E, para um artista que vem reclamando que está sem gravadora, o dinheiro do brasileiro vem bem a calhar, não é verdade?

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